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CATARINA ACCIPITER

   A morte do antigo imperador, Tarvis Accipiter, e a possível coroação de sua filha Catarina como líder imperial provocou insegurança e revolta entre vários segmentos subalternos à coroa. A juventude da sucessora, de apenas 15 anos, o fato de uma mulher governar Dascre e a falta de preparo para comandar um complexo império eram os principais argumentos da oposição à coroação de Catarina. Seu tio Arios se colocava como líder desse movimento, ambicionando se tornar imperador. Enquanto isso, outra ala argumentava que a única maneira de honrar Tarvis e seguir a lei que durante o período imperial se mantivera forte era permitir a coroação da jovem, estes eram liderados por Henri Torbun, avô de Catarina e Sir Adrios Accipiter.

  

   Devido ao impasse e a grande probabilidade de uma nova guerra civil, Alícia Torbun conclamou os principais lordes de Dascre para se reunirem na Capital Imperial e acertarem quem seria o novo imperador. Cerca de 23 lordes se reuniram com Alícia, entre eles estavam os governadores das regiões e outros nobres de grande importância, como Arios Accipiter, regente de Rivos e candidato à coroa. Mesmo após dias de discussão não havia consenso, e cada vez mais a ala fiel a Arios ameaçava romper com a coroa. O ponto determinante na reunião foi quando a própria Catarina Accipiter se apresentou perante os nobres e discursou para que a coroa fosse passada a ela, invocando a memória de seu pai e a confiança que ele tinha em cada um daqueles homens. As comoventes palavras da jovem e a força que esta demonstrava serviu para que mais nobres a apoiassem, até Fobras que nunca interferiu nos assuntos internos do império se colocou ao lado da jovem Accipiter. Enfraquecido, Arios declinou da coroa naquele momento, esperando o apoio à sobrinha diminuir para ele tomar o trono. Com a crise resolvida, Catarina Accipiter foi coroada, aos 15 anos, imperatriz de Dascre.

  

   A vitória na coroação, entretanto, não apresentou um alívio para Catarina. A jovem não estava preparada para governar Dascre devido a educação de princesa que recebera. A forte pressão dos lordes para uma guerra contra o Norte e a sombra de seu tio para tomar-lhe a coroa só dificultavam a situação. Percebendo que a filha precisava de estudo e treinamento para se tornar imperatriz, Alícia assumiu secretamente as obrigações da coroa, enquanto a jovem era educada por homens fiéis ao trono. Durante três anos a menina aprendeu o que um príncipe teria uma década para aprender. Pronta para vingar o pai e irmãos e sem mais os conselhos da mãe que falecera quando ela completara 18 anos, Catarina convocou todos os lordes do império para irem a Capital Imperial. Centenas de nobres se encontravam na cidade, alguns esperando que a guerra contra o Norte fosse declarada, outros que a solteira imperatriz anunciaria seu casamento e, de fato, todos estavam certos. Com um discurso carregado de emoção, invocando os antigos imperadores, Catarina anunciou que a vingança contra o Norte se daria em alguns meses e que o nobre que mais se destacasse na batalha se casaria com ela, tornando-se imperador. O anúncio surpreendeu os vassalos que nunca viram tal medida ser adotada e que, em tese, colocaria tanto a alta nobreza quanto a baixa nobreza em igualdade na disputa pela mão da imperatriz, estimulando a concorrência, sem, no entanto, fazê-la perder o apoio de seus aliados. Como ela planejara, milhares de homens foram chamados por seus senhores para lutar, entretanto, não era suficiente para tomar o Norte. Prometendo terras e tesouros para o líder da Fé dos Homens em troca de seu apoio à coroa, este anunciou que os deuses conclamavam seus súditos em uma luta final contra os falsos deuses nortistas, em troca de seus serviços, os combatentes receberiam o perdão por seus pecados, o que levou milhares de homens a se armarem, mas Catarina ainda desejava mais. Com uma última medida, ela ofereceu ouro e terras a grupos mercenários em troca de seus serviços, o que novamente engrossou as fileiras do exército imperial. Finalmente a imperatriz estava satisfeita e, com seu exército, marchou em direção ao Norte. Aproximadamente, 200 mil soldados seguiam Catarina. O maior exército que Dascre já vira.

  

   A batalha pelo Norte foi uma das mais sangrentas da história de Dascre, com centenas de milhares de homens batalhando por vingança, por liberdade, por honra e por suas casas. Algumas cidades e famílias nobres foram extintas durante a guerra. Alianças seculares foram rompidas e rixas eternas foram criadas. A coragem e força nortista foram valorizadas como nunca antes, enquanto a união dos dascreanos contra um inimigo comum mais uma vez mostrou-se como fator determinante para a batalha. Após um ano de guerra, chamas se espalhando pelo Norte, incontáveis mortos, dragões caídos e um rei derrotado, o Norte se rendeu. Em um monte perto da cidade de Frainer, o dia mais triste para os nortistas aconteceu, os lordes remanescentes se ajoelharam perante Catarina e entregaram a coroa do rei do Norte para ela, mostrando sua rendição. Após séculos de batalhas Dascre estava unificada sob o comando do gavião dourado.

  

   Após a derrota nortista e a unificação de Dascre Catarina retornou à Capital Imperial e foi coroada como imperatriz de toda Dascre. A grandiosa vitória garantiu a ela o apoio incondicional de diversas forças militares e de nobres de diferentes regiões, tornando-a a líder militar mais forte de toda história. Após o cumprimento das promessas feitas pela imperatriz à Fé dos Homens, o líder da religião a nomeou como uma mensageira de Bartial, deus da guerra. Como proclamado Catarina se casou com aquele que ela julgou ser o guerreiro mais formidável da guerra contra o Norte, Klaus Durimono, primeiro filho do regente de Rioli, embora alguns conselheiros e nobres fossem contra o casamento da imperatriz com um membro de uma família de segunda classe, Catarina não mudou de opinião e mais uma vez desafiou a tradição.

  

   Sua influência e poder cresciam cada vez mais, entretanto, uma pequena oposição ainda se fazia ouvir e a monarca planejava silencia-los. Devido a suas habilidades de combate, mostradas na guerra, Catarina se aproximou de muitos guerreiros formidáveis e jovens filhos de nobres que a viam como a maior líder que Dascre já tivera, ignorando os imperadores do passado. Essa influência foi determinante para o que ficou conhecido como o "dia da terceira coroação", um movimento que em um único dia eliminou toda a oposição a imperatriz, dezenas de lordes e cavaleiros opositores a coroa foram mortos pelos próprios filhos e companheiros que haviam jurado lealdade a imperatriz. O próprio Arios e seu filho foram assassinados por Catarina. O ataque acabou de vez com qualquer oposição ao trono e fez de Catarina líder absoluta.

  

   Os anos que se seguiram foram de paz e calma, as reformas adotadas pela monarca que poderiam gerar alguma revolta foram aceitas sem alarde, a extinção da posição de líder da marinha imperial, o corte das relações diplomáticas com os sinfios, o perdão a parentes que assassinassem seus familiares em combate justo, a manutenção das terras nortistas com seus nobres de origem, investimentos em liceus e universidades que não fossem ligadas a Fé dos Homens e a criação de fundos para pagar militares aposentados, dentre outras, foram algumas medidas. A única medida que Catarina teve de negociar foi a abertura da Ordem dos Guardiões a mulheres, embora homens de origem plebeia já pudessem se tornar guardiões, as mulheres ainda eram impedidas de se tornarem guerreiras. Para que o alto comando da Ordem apoiasse tal norma Catarina teria de conceder mais independência aos guardiões, com isso foi criado um fundo próprio da Ordem que seria administrado pelos guardiões, além disso o imperador não poderia mais influenciar a eleição de Comandante Supremo, nem nomear um cavaleiro para o posto de guardião. Embora essas regras garantissem maior autonomia a Ordem, ela continuava sob o comando direto do imperador.

  

   O fim da vida de Catarina seria o oposto do que ela vivera, já idosa e fraca a imperatriz dormiria uma noite e jamais acordaria de novo, repousando sozinha em seu cômodo. Sua ideologia centralizadora, mas progressista seria seguida por seu filho mais velho Alexandre, e sua memória como primeira imperatriz seria imortalizada pela coroa.

  

   Catarina Accipiter governou por cinquenta anos. Sua força, habilidade militar e ideias inovadoras a tornariam um exemplo de liderança e determinação para as futuras gerações, entretanto, seu autoritarismo e perseguição a opositores seriam fatores que ajudaram a macular seu reinado. A Última Chama, seria assim conhecida por ser a última descendente de Tarvis, a última a batalhar com Fobras e a última a conquistar uma região independente de Dascre.

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